ExistĂȘncia Pascal por FrĂĄter Rodrigo Costa.
- Fratér Rodrigo Costa, C.SS.R.
- 26 de abr. de 2017
- 4 min de leitura

O acontecimento da morte e ressurreição de Cristo Ă© o coração e fundamento de nossa fĂ© cristĂŁ, como bem expressou SĂŁo Paulo: âSe Cristo nĂŁo ressuscitou, entĂŁo a nossa pregação Ă© inĂștil e tambĂ©m Ă© inĂștil nossa fĂ©â (1Cor 15,14). AtravĂ©s de sua morte na cruz, o Filho revela atĂ© onde pode ir a radicalidade do amor e solidariedade de Deus com a humanidade, assumindo nossos sofrimentos e nossos pecados. Ao ressuscitĂĄ-lo, o Pai arranca o Filho do reino da morte e confirma a vida e a missĂŁo de Jesus, levando-as a plenitude. âĂ sua existĂȘncia totalmente doada, atĂ© a morte no abandono, se segue a ressurreição, que Ă© resposta acolhedora do Pai em relação a todo caminho sacrifical do Filhoâ (Bruno Forte). Com o acontecimento da ressurreição a morte nĂŁo tem mais poder sobre Jesus e nem sobre nĂłs, pois pertencemos a Ele. Assim, fica claro que a celebração da PĂĄscoa Ă© o eixo central da vida cristĂŁ. Tudo converge para o MistĂ©rio da PaixĂŁo-Morte e Ressurreição de Cristo. Cada vez que celebramos o MistĂ©rio Pascal de Cristo, somos convidados a percorrer o itinerĂĄrio humano de Jesus, acompanhĂĄ-lo em seu ministĂ©rio e pregação, subir com Ele para JerusalĂ©m, e com Ele viver a experiĂȘncia de morte e ressurreição.
Tudo começou a partir da experiĂȘncia de um encontro. O prĂłprio Cristo ressuscitado tomou a iniciativa de dirigir-se aos seus discĂpulos, tal como nos mostram os relatos das apariçÔes (cf. Mc 16,9-20; Mt 28,9-10.16-20; Lc 24,13-33; Jo 20,14-29 e 21). A partir desse encontro, os discĂpulos reconhecem que Jesus vive, e esta experiĂȘncia mudou radicalmente suas vidas, pois de medrosos fujĂ”es, incapazes de permanecem com o Senhor na hora mais dolorosa, eles se transformam em testemunhas corajosas do Ressuscitado. ApĂłs este encontro de graça, os discĂpulos am a uma existĂȘncia nova, marcada por um novo sentido, que se expressa na vida de doação e na coragem para testemunhar. Estas atitudes sĂŁo as mesmas que devem orientar a nossa vida cristĂŁ cada vez que celebramos o MistĂ©rio Pascal, no hoje de nossa histĂłria.
A vida de Jesus foi uma PĂĄscoa continua, isto Ă©, uma contĂnua agem para o Pai. Jesus era um homem voltado totalmente para o Pai e para o Reino. Pode-se dizer que Ele se realiza plenamente saindo de si, ao ponto de em obediĂȘncia a vontade do Pai, oferecer a prĂłpria vida. Sua realização maior consiste em ser para o Pai e ser para os outros. Deste modo, a PĂĄscoa de Jesus deve questionar a maneira como vivemos a nossa vida e nossa prĂłpria realização pessoal. Celebrar a Morte e a Ressurreição de Jesus, imersos na cultura do consumismo, que prega o ideal da auto-realização a todo custo, e que Ă© avessa a toda ideia de sacrifĂcio, significa entrar em contradição com a lĂłgica deste mundo e rever nossas opçÔes de vida, isto Ă©, se nossa fĂ© no Cristo ressuscitado no leva Ă solidariedade e comprometimento com os crucificados e injustiçados, se somos tambĂ©m capazes de dar a vida, de nos entregarmos por amor as vĂtimas de nosso tempo. Por outro lado, confessar a fĂ© no Ressuscitado significa ar da servidĂŁo aos Ădolos de todo tipo (dinheiro, poder, sexo, etc), que nos escravizam e geram a morte, ao serviço ao Deus da vida, que nos liberta do pecado e nos faz participar de sua comunhĂŁo de vida e amor.
O encontro com o Senhor ressuscitado abre os discĂpulos para a missĂŁo, isto Ă©, para serem testemunhas da Ressurreição atĂ© os confins da terra: âIde pelo mundo inteiro e anunciai a Boa notĂcia a toda humanidadeâ (Mc 16,15). ApĂłs cada encontro entre o Vivente e seus discĂpulos, hĂĄ um convite, um impulso para a missĂŁo (cf. Mc 16,7; Mt 28,10; Lc 24,33-35; Jo 20,17-18). De fato, os discĂpulos nĂŁo poderiam experimentar a força transformadora do encontro com o Ressuscitado, sem se tornarem anunciadores e testemunhas desta Boa notĂcia: âO Vivo se oferece aos seus e os torna vivos de vida nova, testemunhas daquele encontro com ele, que marcou para sempre a sua existĂȘnciaâ (Bruno Forte). Sendo assim, o tĂșmulo de Jesus nĂŁo Ă© ponto de chegada, mas ponto de partida para a missĂŁo. Este encontro de vida transforma a vida de cada discĂpulo, tornando-a presença do Cristo ressuscitado no meio da humanidade, se tornam vivificadores de toda histĂłria: âPor conseguinte, se alguĂ©m estĂĄ em Cristo, Ă© uma nova criatura: as coisas antigas aram e tudo foi feito de novo!â (2Cor 5,17).
âQuem tiver ouvido a mensagem pascal nĂŁo pode mais andar com o rosto trĂĄgico nem levar uma existĂȘncia de pessoa sem humor, que nĂŁo tem esperançaâ (Schiller). A experiĂȘncia da ressurreição começa agora, Ă© vida e esperança transbordante, capaz de envolver toda vida humana que se deixa tocar pelo mistĂ©rio do Ressuscitado. Com a Ressurreição de Jesus, somos introduzidos numa existĂȘncia nova, somos chamados a viver como ressuscitados nas realidades de nosso mundo. ApĂłs o encontro com o Ressuscitado, nĂŁo Ă© mais possĂvel compreender da mesma forma o sentido da nossa vida, pois a Ressurreição transforma a nossa consciĂȘncia, muda o sentido da nossa vida, nos faz homens e mulheres novos, em outras palavras, amos a viver uma existĂȘncia pascal, a PĂĄscoa se torna nossa histĂłria.